segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Fosseis de jacaré

Pesquisadores da UFAC coletam fósseis de jacarés gigantes na BR-364

Altino Machado às 10:13 am
mourasuchus
Fóssil do mourasuchus: 50 dentes e cabeça com aspecto de "bico de pato"
Pesquisadores da Universidade Federal do Acre (UFAC) coletaram, na margem direita da BR-364, no município de Feijó (AC), fósseis de dois jacarés. Apesar de bastante danificado, o primeiro fóssil foi identificado como sendo ramo mandibular do grande jacaré Purussaurus brasiliensis, o maior jacaré do planeta.
A equipe também localizou nova evidência fóssil que de imediato foi atribuída a outro jacaré, contudo, sem possibilidades de identificação mais precisa. Ambas as peças foram transportadas para o Laboratório de Pesquisas Paleontológicas (LPP) da Ufac.
Após estar tecnicamente preparado, estudos preliminares já realizados no LPP permitem afirmar que o segundo material é do gênero Mourasuchus nativus. A espécie pertence à família Nettosuchidae, que são crocodilos endêmicos da América do Sul.
Possuem um crânio largo, longo e relativamente achatado, características estas que os diferenciam de qualquer outra forma de jacaré atual.
O primeiro fóssil deste gênero foi encontrado nas barrancas do rio Juruá, no Acre, e foi descrito para a ciência por L. I. Price, em 1964. Atualmente, já foram encontrados representantes da família Nettosuchidae na Argentina, Colômbia e Venezuela.
O paleontólogo Jonas Souza Filho, ex-reitor da UFAC, especialista neste grupo de répteis, coordenou o trabalho de coleta dos fósseis em Feijó.
Paleontólogo Jonas Filho na BR-364
Paleontólogo Jonas Filho na BR-364
- O Mourasuchus é um “curioso” jacaré também de grandes dimensões, contemporâneo de Purussaurus. Ele viveu durante o Período Mioceno Superior/Plioceno na Amazônia Sul-Ocidental, entre 5 e 8 milhões de anos. Endêmico da América do Sul, este jacaré fóssil não possui representante na fauna atual do planeta, estando extinto desde o Período Plioceno - explica.
As características anatômicas deste gênero de jacaré estão marcadas, segundo Jonas Souza Filho, pela presença de um crânio muito longo e largo, exageradamente achatado, com uma dentição numerosa, com cerca de 50 dentes e cabeça com aspecto de um “bico de pato”.
- Estas características os diferenciam de qualquer outra forma de jacaré até então conhecida - assinala o paleontólogo.
A BR-364, em toda sua extensão, é rica em fósseis que vêm sendo estudados desde os 1980 pelos pesquisadores da UFAC.
Carapaça de tartaruga gigante comparada com jabuti e tartaruga atual
Carapaça fóssil de tartaruga gigante comparada com jabuti e tartaruga atuais
Eles encontraram, ainda, o fóssil de uma tartaruga mata-mata, originária da América do Sul, que vive especificamente na região amazônica. A carapaça fóssil mede mais de 2 metros de diâmetro. O nome científico da mata-mata é Chelus fimbriatus, que significa Tartaruga franjada ou ornamentada.
Jonas de Souza Filho, que está realizando pós-doutorado na Universidade de Brasília, até março 2010, neste momento encontra-se no Acre para fazer parte final de campo.
Entre suas propostas está a elaboração de um livro científico sobre jacarés fósseis do Acre e outro, infantil, sobre o Purussaurus. No livro infantil ele quer contar uma história tão real quanto fictícia sobre o nosso maior jacaré do mundo.
- Quero colocar ou começar a colocar o Purussaurus no seu devido lugar, isto é, junto com o mapinguari e outros da nossa cultura regional e nacional.
Conheça os principais fósseis do Acre
Cabeça de jacará atual comparada com a do purussaurus
Cabeça de jacará atual comparada com a do purussaurus
Purussaurus - É o maior predador da Amazônia. O crânio do grande jacaré foi coletado pela equipe do LPP em 1986, no Alto Rio Acre, a montante do município de Assis Brasil. O crânio mede 1,30 metros e o animal deveria ter o comprimento total de 12 metros, sendo que alguns indivíduos poderiam alcançar até 18 metros. Habitaram o Acre entre 8 e 5 milhões de anos, o que corresponde às épocas geológicas Mioceno Superior-Plioceno. Foram encontrados diversas peças de crânio e pós-crânio desse gigantesco jacaré em vários sítios fossilíferos do Estado. Sua existência não está restrita apenas ao Acre, pois foram encontrados fósseis de Purussaurus também na Bolívia, Peru, Colômbia e Venezuela.
Mastodonte - Foram animais semelhantes, inclusive em tamanho, aos atuais elefantes. Distribuíam-se por toda a América do Sul. Apresentavam presas recurvadas, muito desenvolvidas, que poderiam chegar até a um metro e meio de comprimento. Os lábios superiores se transformaram em uma tromba de movimentos precisos. Eram herbívoros e alimentavam-se de brotos, arbustos, folhas e capim. Possuíam dentes de crescimento contínuo.
Toxodontes - Foram animais semelhantes aos hipopótamos atuais. Esses animais são de origem sul-americana e habitaram esse continente por quase toda a Era Cenozóica. Apresentavam pescoço curto possante e atarracado que poderia atingir facilmente a grama. A bacia é larga e os pés e mãos são volumosos. Possuíam uma corcova bastante pronunciada que se iniciava no nível das patas anteriores onde as vértebras tinham uma enorme projeção superior. Suas características corpóreas coincidem com aquelas de animais de hábitos semi-anfíbios. Eram herbívoros e alimentavam-se de arbustos, folhas e capim. Uma mandíbula quase completa
 foi coletada em Assis Brasil, no Alto Rio Acre.
Preguiça gigante - As preguiças gigantes foram animais terrícolas ao contrário das preguiças atuais que são arborícolas. Tiveram sua origem na América do Sul e através da América Central chegaram na América do Norte.
 Os animais maiores poderiam atingir até seis metros de altura. Caminhavam lentamente apoiando-se sobre os lados dos pés e das mãos. Apresentavam o corpo recoberto por pêlos e possuíam uma garra a mais que as preguiças atuais.
 A maioria das espécies de preguiças gigantes alimentavam-se de gramíneas e folhas, e algumas espécies utilizavam a cauda robusta e musculosa, além dos pés, para formar um tripé e assim alcançar os ramos e brotos mais altos das árvores. 

Ramo mandibular esquerdo, com alvéolos foi coletado no Alto Rio Juruá, no Acre.
Hesperogavialis sp - Os gavialídeos são jacarés caracterizados por um rostro bastante alongado que se alimentam basicamente de peixes e pequenos anfíbios. Atualmente, dentro da família Gavialidae, existe apenas uma espécie vivente, o Gavialis gangeticus, na Bacia do rio Ganges e Burma na Ïndia (Continente Asiático).
 Como fósseis, os gavialídeos têm sido encontrados na América do Sul, em particular no Acre. São formas bem maiores que as atuais.
Podocnemis sp - A carapaça deste grande quelônio de água doce foi coletada nas barrancas do alto rio Acre, Município de Assis Brasil, fronteira Brasil/Bolívia/Peru em 1982 e, desde então, encontra-se depositada no LPP.

Stupendemys - É o maior quelônio de água doce que se conhece. Viveu na América do Sul, mais especificamente na Amazônia. Pertence ao grupo dos quelônios que retraem o pescoço lateralmente.
 Provavelmente passavam o dia tomando sol nas margens de rios, dando mergulhos periódicos para alimentar-se de pequenos crustáceos, peixes e plantas. Contudo, nem sempre a vida desses quelônios era sossegada, pois nessa época habitava a região amazônica enormes jacarés, como o Purussaurus, que certamente foram seus maiores predadores.

 Fóssil da cintura pélvica foi coletado no Sítio Cachoeira do Bandeira, no rio Acre.
Conheça o LPP
O professor Edson Guilherme faz uma breve apresentação do Laboratório de Pesquisas Paleontológicas da UFAC, que possui acervo com 5.000 peças fósseis.
Muitas são peças únicas no mundo, tendo revelado para a ciência uma série de novos gêneros e espécies de animais vertebrados que viveram na Amazônia nos últimos 8 milhões de anos.

http://www.youtube.com/watch?v=ATRXfwltQuk&feature=player_embedded


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